Economia

Ter plano de ação é forma efetiva de empresas ajudarem em desastres climáticos

Ter plano de ação é forma efetiva de empresas ajudarem em desastres climáticos


CNN BRASIL

Uma onda de solidariedade que lembra tempos pandêmicos. Desde o final de abril, enchentes e inundações já afetaram 414 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, o equivalente a 83% do estado. Cidades inteiras foram evacuadas, o estado inteiro está em situação de calamidade pública, e ainda não é possível saber com precisão o número total de pessoas mortas e desaparecidas, nem contabilizar o prejuízo material.

Para as empresas, uma boa prática de responsabilidade social recomendada é construir um plano de ação para ajudar de forma efetiva e consistente, considerando a urgência e as prioridades que a região precisa.

“As empresas são o motor da sociedade, elas têm maior poder de autonomia do que o setor público”, diz Sonia Consiglio, especialista em sustentabilidade.

“Espera-se que as empresas, sobretudo as de grande representatividade no mercado, que estão sempre na mídia, que têm impacto na vida das pessoas, se posicionem e digam o que elas estão fazendo em relação a uma tragédia que afeta todo mundo”, conclui Consiglio, reconhecida pelo Pacto Global da ONU como pioneira por seu trabalho relacionado aos objetivos do desenvolvimento sustentável.

Como uma boa prática de sustentabilidade e governança, e para aumentar o potencial de impacto positivo, a especialista recomenda que, sempre que possível, boa parte das doações esteja relacionada aos produtos que a empresa fabrica ou comercializa, e aos serviços que ela presta.

“Independentemente de atender as demandas mais básicas, é totalmente possível e desejável que a estratégia de ação se correlacione com o negócio, porque assim a empresa tem mais possibilidade de impacto”, avalia Sonia Consiglio, especialista em sustentabilidade.

“Usando sua estrutura, seus procedimentos, seus processos, seus produtos, a empresa opera melhor e pode colaborar de forma mais efetiva e em maior escala”, conclui a especialista.

Comitê de Crise

Para as empresas diretamente afetadas, o primeiro passo deve ser montar um comitê de crise e atuar no cuidado com seus funcionários, fornecedores e clientes, conforme recomendação de especialistas em governança e sustentabilidade.

Localizada em um dos epicentros da tragédia, Santa Cruz do Sul, a Mercur, indústria de materiais de saúde e educação, estruturou o comitê de crise para organizar o andamento da operação, assim como para atender as necessidades que surgem, tanto de colaboradores, quanto da comunidade.

A empresa prestou orientações de como cada funcionário pode se manter seguro, antecipou o 13º salário e orientou sobre saques do FGTS. Para oferecer suporte emocional de forma profissional, divulgou internamente os canais de atendimento psicossocial, e colocou um plantão de atendimento psicossocial nas suas duas fábricas da cidade.

Plano de ação

Líderes de empresas de todo o Brasil e de outros países podem começar o plano de ação se informando nos canais de comunicação das autoridades locais, quais as necessidades e prioridades locais.

É importante também buscar conhecimento sobre o que fazer em desastres climáticos para prestar suporte material e emocional às pessoas afetadas.

É essencial também informar os funcionários sobre o posicionamento e as ações da empresa, e facilitar doações de outras pessoas e empresas.

“Neste momento é preciso ver os recursos sendo destinados e chegarem de forma ágil para quem precisa”, salienta Consiglio. Depois, a boa prática corporativa orienta a transparência na prestação de contas no site da empresa e relatório anual, com a divulgação dos resultados das ações.

Veja a seguir alguns exemplos de anúncios de doações de empresas locais e de todo o Brasil, conforme produtos e serviços de necessidade básica.

A Ambev parou sua produção de cerveja em Viamão, na grande Porto Alegre, para envasar água potável e doar à população do Rio Grande do Sul. Serão cerca de 850.000 latas de água de 473 ml produzidas por dia na cervejaria de Viamão.

A companhia precisou levar de São Paulo alguns maquinários para viabilizar a adaptação de sua fábrica, em parceria com a empresa Ball, líder global na produção de latas de alumínio. A Ambev começou a distribuir as latas de água nesta quarta-feira (8).

O Sistema Coca-Cola Brasil está trabalhando junto aos seus fabricantes, especialmente a Coca-Cola FEMSA Brasil, que atua diretamente na região e também teve seus colaboradores e operação afetados pelo desastre. Desde a última quinta-feira, 2 de maio, a empresa está atuando para fazer chegar às comunidades locais cerca de 500 mil litros de água.

Em parceria com a organização Ação da Cidadania, a Coca-Cola se comprometeu a dobrar o valor das doações feitas para os recursos emergenciais da população, como alimentos, itens de higiene e colchões.

Até o momento, a fabricante de piscinas iGUi, cuja sede fica em São José do Rio Preto, em São Paulo, doou 10 carretas com 25 mil litros de água em garrafas de 500ml para distribuir na unidade iGUi de Taquara, no Rio Grande do Sul. Todas as unidades da Rede devem se tornar pontos de arrecadação nos próximos dias para demais doações.

O Grupo CCR, que opera quatro rodovias e três aeroportos no estado, disponibilizou dois helicópteros e colaboradores de atendimento pré-hospitalar para ajudar nas operações de socorro a pessoas feridas e comunidades isoladas. A empresa realizou a doação de 10 toneladas de água potável, alimentos e materiais de higiene.

Por meio da CCR ViaSul, a empresa suspendeu desde domingo (5) a cobrança da tarifa em todas as suas praças de pedágio em rodovias do Rio Grande do Sul para facilitar o envio de ajuda às regiões mais afetadas. Também isentou as taxas aeroportuárias nos aeroportos do Grupo CCR do estado para voos com foco em ações humanitárias até 15 de maio. Além disso, todos os 17 aeroportos administrados pela companhia no país estão recebendo doações de alimentos não perecíveis e itens de higiene pessoal. Quase 20 toneladas já foram arrecadadas.

Em uma operação especial, a companhia aérea Azul está recebendo doações em 160 aeroportos e nas 103 lojas da operadora de Turismo Azul Viagens pelo país. A empresa aumentou a capacidade de 22 voos para transportar os mantimentos e antenas de internet por satélite doadas pelo governo de Minas Gerais e está fazendo 16 operações extras para a região Sul.

O Grupo Boticário doou milhares de produtos de higiene pessoal em uma atuação conjunta com o Movimento União BR. A empresa também está implementando assistência médica, psicológica e produtos de necessidades básicas para colaboradores afetados, além de medidas financeiras para franqueados e revendedores da região.

A Calçados Bibi, com sede e fábrica em Parobé, no Rio Grande do Sul, está promovendo doações de calçados infantis, marmitas diárias, materiais de limpeza e água potável. Além disso, a fábrica é ponto de coleta de arrecadação na região, oferecendo suporte às entidades locais.