Paraíba

Irmão de prefeito assassinado toma posse da gestão de João Dias: ‘Não era o caminho que eu esperava trilhar’

Irmão de prefeito assassinado toma posse da gestão de João Dias: ‘Não era o caminho que eu esperava trilhar’


O irmão do prefeito assassinado em João Dias, na última terça-feira (27), assumiu a gestão do município do Alto Oeste do Rio Grande do Norte na tarde desta quinta-feira (29), em uma sessão realizada virtualmente por questão de segurança.

Jessé Oliveira (União Brasil), de 27 anos, era o presidente da Câmara Municipal e assumiu o Poder Executivo dois dias após perder o próprio pai e o irmão, Marcelo Oliveira, em um atentado a tiros durante uma atividade de campanha eleitoral.

A vice-prefeita eleita em 2020, Damária Jácome, não assumiu a gestão porque está afastada do cargo desde 2022, após Marcelo denunciar ameaças dela e do seu pai Laete Jácome, então presidente da Câmara. Ela concorre ao cargo de prefeita nas eleições de 2024.

O mandato do novo prefeito deve durar até o fim do ano. Outro prefeito deve ser definido nas eleições do próximo dia 6 de outubro e tomar posse no início de 2025.

As forças de segurança do estado prenderam 14 pessoas desde o início das investigações: quatro suspeitos de participação no crime e outros 10 de planejarem uma vingança pelo crime.

Após a posse, o novo prefeito usou as redes sociais do irmão falecido para publicar uma “carta aberta” à população do município, que tem cerca de 2 mil habitantes.

“Em meio a essa tragédia, sou chamado a assumir a responsabilidade de liderar nossa cidade. Este não era o caminho que eu esperava trilhar, e não posso negar o peso que isso traz, especialmente em um momento de tanta dor. Mas, apesar da angústia, tenho em mim a firme determinação de continuar o legado que meu pai e meu irmão construíram com tanto amor e dedicação”, afirmou na carta.

O prefeito afirmou que está com o “coração despedaçado” e “sentindo uma dor que é difícil de colocar em palavras”.

“A tristeza que sinto é imensa, e sei que muitos de vocês compartilham desse sentimento, pois eles não eram apenas líderes, mas amigos, vizinhos e membros queridos de nossa comunidade”, afirmou.

“Peço a vocês, de todo o coração, que se unam a mim nesse momento difícil. Sei que muitos de vocês estão assustados, com medo do que pode vir pela frente, mas juntos, somos mais fortes. João Dias sempre foi uma cidade de pessoas corajosas e resilientes, e é essa coragem que precisamos agora”, pontuou.

Segundo a assessoria jurídica de Jessé, o novo prefeito também deverá assumir a presidência do partido União Brasil, que era liderado por Marcelo Oliveira no município. A legenda deverá definir nos próximos dias um novo candidato à prefeitura. Marcelo disputava a reeleição. Jessé está cadastrado como candidato a vereador no município.

O assassinato a tiros do prefeito Marcelo Oliveira (União Brasil) e do pai ele, Sandi Oliveira, no município de João Dias, na última terça-feira (27), mobilizou forças de segurança do Rio Grande do Norte, responsáveis pela investigação do crime. Apesar das prisões, a polícia não revelou a motivação do crime até a última atualização desta reportagem.

Questionado se poderia ter relação com a disputa política, o delegado Alex Wagner afirmou que nenhuma linha de investigação estava descartada.

João Dias é o terceiro menor município do Rio Grande do Norte, com pouco mais de 2 mil habitantes, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, a cidade localizada na região do Alto Oeste, na divisa com a Paraíba, contava com apenas 294 pessoas ocupadas em 2022, com rendimento médio de 1,5 salário mínimo.

O crime

Marcelo Oliveira (União Brasil) era candidato à reeleição e, junto do pai, visitava casas de apoiadores no fim da manhã de terça-feira (27), por volta das 11h, no conjunto São Geraldo, em João Dias. Segundo a polícia, cerca de oito criminosos distribuídos em dois veículos chegaram repentinamente ao local e atiraram contra os dois. Um segurança do gestor também foi baleado.

O pai do prefeito morreu na hora. Marcelo chegou a ser socorrido e deu entrada com vida em um hospital de Catolé do Rocha, na Paraíba, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a polícia, ele foi atingido por 11 disparos de arma de fogo.

Segundo a polícia, o segurança do prefeito foi levado para o Hospital Regional de Pau dos Ferros, mas o estado de saúde dele não foi informado.

Várias marcas de tiros ficaram nas paredes das casas na rua onde o crime aconteceu. Em apenas um dos imóveis, nove marcas podem ser vistas no muro. No local, moradores não quiseram falar com a imprensa, com medo.

Eleições mantidas na cidade

O presidente do TRE-RN, desembargador Cornélio Alves, descartou a possibilidade de adiamento das eleições em João Dias e afirmou que o juiz eleitoral da região solicitou reforço de forças de segurança federais para as eleições no município. Segundo Cornélio Alves, na eleição passada, esse pedido já havia ocorrido na cidade de João Dias.

“Para lá deve ser deferido o reforço da força federal. Eu conversei até com o juiz, ele disse que para cidades vizinhas não precisa, que com a PM resolve, mas que pra João Dias é necessário colocar a força federal lá para que o eleitor possa votar no dia da eleição”, disse.

“Aconteceu um homicídio, a situação preocupa, e é preciso a gente dar segurança para o eleitor, para que no dia da eleição, ele vote livremente, não tenha medo de comparecer e votar”, disse.

O presidente do TRE-RN lamentou que o início do processo eleitoral no estado tenha sido marcado por um homicídio e disse que uma das candidatas a prefeitura pediu auxílio da polícia para deixar a cidade devido ao cenário local.

Patos Online