Réka Juhász e Carlota Perez, duas das maiores expoentes no tema, destacam sustentabilidade e financiamento como pontos cruciais para o desenvolvimento da indústria
A capacidade e a velocidade de migração para modelos de produção mais verdes serão determinantes para o sucesso de qualquer estratégia de desenvolvimento industrial, setor intensivo em energia. Neste ponto, o Brasil tem vantagens claras e precisa saber aproveitá-las para alavancar os resultados da política industrial.
É o que defendem duas das maiores especialistas e estudiosas em política industrial da atualidade: Carlota Perez, professora do Institute for Innovation and Public Purpose (IPP) da University College London; e Réka Juhász, docente da Vancouver School of Economics da Universitu of British Columbia.
Para Réka, as políticas industriais de sucesso funcionam de forma integrada, como é o caso das políticas verdes. “Elas não estão focando em um setor específico, mas em vários ao mesmo tempo, como a de descarbonização, que estará presente em todos os setores ao mesmo tempo”, explica a especialista.
Carlota lembrou que a América Latina tem vantagens em relação à transição energética pela abundância de recursos para a produção de energias renováveis. De acordo com ela, demonstrar essa capacidade, atrai investimento estrangeiro.
“Temos experiências em agropecuária, alumínio, química etc. A gente está falando de empresas intensivas, não só de extração, mas de infraestrutura técnica. Todos esses processos são muito intensivos energeticamente, então temos que mostrar para o mundo que eles precisam ser feitos nos lugares onde temos energias renováveis”, defendeu a pesquisadora.
Como viabilizar políticas industriais
Carlota deu exemplos de vários países que passaram por saltos tecnológicos na história, como os Estados Unidos e a Alemanha nos anos 1970 ou a China nos anos 1980, e frisou que todos eles tiveram em comum o fato de ter um setor privado dinâmico. “E a fórmula foi a seguinte: tínhamos que ter estado, direcionamento, inovação, educação e mercado com uma ação conjunta dos setores público e privado no espaço global”, explicou.
Outro fator imprescindível para o sucesso das políticas industriais mundo afora é o que Réka Juhász chama de “investimento local”. Na avaliação da professora, um bom exemplo no Brasil são os financiamentos do BNDES a projetos de energia renovável. “Quando a gente pensa em políticas públicas que funcionam, o que a gente percebe é que não se pode só exportar sem pensar nos incentivos e condições locais”, defende a pesquisadora.
Réka Juhász e Carlota Perez participaram virtualmente de seminário organizado pela CNI, BNDES e MDIC sobre política industrial
Comércio exterior
Carlota destacou que o Estado também exercia papel fundamental no comércio exterior e que agora, precisamos tirar vantagens dessa globalização. “Temos que reconhecer a natureza da oportunidade. O estado teve um papel muito forte nas indústrias, dando fundos e provendo essas indústrias exportadoras, garantido que tivesse o comércio interno e condições de exportação”.
Já para a docente da Vancouver School of Economics da University of British Columbia, atualmente, as políticas direcionadas ao comércio exterior são protecionistas, especialmente as de importação, mas algumas das políticas modernas não são muito mais orientadas para o exterior.
Conheça mais sobre as especialistas
Carlota Perez
Estudiosa anglo-venezuelana especializada em tecnologia e desenvolvimento socioeconômico. Em 2020, foi considerada pela Forbes como uma das cinco economistas mais relevantes no mundo, e incluída na lista das 50 maiores pensadoras do mundo da revista Prospect.
Réka Juhász
Professora na Vancouver School of Economics da University of British Columbia, no Canadá, e cofundadora do Industrial Policy Group. Interesses acadêmicos sobre comércio internacional, história econômica, crescimento e desenvolvimento, com especial enfoque na compreensão da política industrial e da industrialização.
FIEPB