Após pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o dólar disparar nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou a viagem que faria à Europa nesta semana e vai se dedicar à agenda de corte de gastos. Haddad tinha embarque marcado para a tarde desta segunda-feira e voltaria apenas no fim de semana.
O cancelamento da viagem foi informado neste domingo pela pasta.
Segundo a assessoria, o ministro passará a semana dedicado aos temas domésticos. “Por essa razão, a viagem à Europa, prevista para segunda-feira (4), não será realizada neste momento. A agenda em questão será retomada oportunamente”, afirma o ministério.
Haddad passaria por Paris (França), Londres (Reino Unido), Berlim (Alemanha) e Bruxelas (Bélgica), onde se reuniria com autoridades e conversaria com investidores.
Há duas semanas, a equipe econômica do governo vem discutindo um pacote de corte de gastos, esperado pelo mercado. As medidas seriam anunciadas depois das eleições.
Neste domingo, após visitar a sala de monitoramento do Enem, Lula foi perguntado sobre o corte de gastos e o cancelamento da viagem de Haddad. Disse que não falaria nada a ser sobre educação.
— Não vou discutir nenhum assunto que não seja educação — afirmou.
Questionado sobre corte de gastos, ele disse:
— Nem mais nada. Nem Estados Unidos, nem Venezuela, nem Nicarágua, nem Rússia, nem China – acrescentou Lula, que também foi indagado sobre a crise entre Brasil e Venezuela.
Haddad se reuniu com Lula ao longo da semana passada, e a demora no anúncio das medidas frustrou o mercado.
– O mercado tinha visto como negativo anúncios (de medidas) só para depois dessa viagem, haja visto que passadas as eleições eram esperados anúncios. E isso (viagem à Europa) foi exatamente o que acabou trazendo esse mau humor para o mercado. Se a postergação for por causa do anúncio do pacote, é visto como bastante positivo – diz Rodrigo Moliterno, gerente de renda variável da Veedha Investimentos.
O dólar encerrou a sexta-feira valendo R$ 5,8698, em alta de 1,53%. As incertezas acerca da condução fiscal no Brasil seguem fazendo peso na cotação, segundo analistas. É o maior patamar para o câmbio desde maio de 2020, ou seja, no auge da pandemia de Covid. Na semana, a moeda valorizou 2,9% na semana e, no ano, já acumula valorização de quase 21% em 2024.
Os juros futuros também demonstram pressão sobre as incertezas da política fiscal. Para 2027, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) já era negociada acima dos 13% ao ano.
A alta da moeda americana preocupa por seus efeitos na inflação, no consumo doméstico, no planejamento de empresas e nos juros. Economistas já projetam alta nos preços de viagens e alimentos, podendo afetar até as compras de Natal.
O Globo